O plexo braquial é um grupamento complexo de cinco nervos que se origina da medula espinhal na região do pescoço, passa debaixo da clavícula e, na axila, dá origem aos nervos que vão controlar os movimentos e a sensibilidade do ombro, braço, antebraço e mão.
As lesões do plexo braquial ao nascimento ocorrem cerca de 1,5 vezes para cada 1000 nascimentos vivos e embora existam diversas causas possíveis, aparentemente a mais frequente é a tração lateral excessiva da cabeça durante o nascimento. Isso ocorre principalmente nos casos em que, devido a uma desproporção entre o tamanho do bebê e da mãe, o ombro da criança fica preso em um osso da pelve da mãe (distócia de ombro) e durante as manobras obstétricas para soltá-lo o plexo braquial é lesado. A tração exercida provoca graus variados de lesão no plexo braquial e como consequência a criança fica com o membro superior parcial ou completamente paralisado.
A manifestação clínica mais comum é a chamada paralisia de Erb. Resultante da lesão das raízes mais altas do plexo (C5, C6 e por vezes também C7), estes pacientes, caracteristicamente apresentam o ombro em rotação interna e adução, o cotovelo em extensão, o antebraço em pronação e o punho em flexão (postura em gorjeta de garçom). Nas lesões completas (de C5 a T1) o membro superior fica completamente paralisado e flácido, havendo tendência para o desenvolvimento de uma deformidade em garra, na mão. Paralisia isolada das raízes mais baixas (C8 e T1) é praticamente inexistente. Em algumas lesões das porções mais inferiores do plexo pode haver comprometimento de fibras do sistema nervoso autônomo e aparecimento da síndrome de Horner, na qual a pálpebra superior do olho do mesmo lado da lesão apresenta-se discretamente caída e a pupila, também do mesmo lado, fica menor.
Cerca de 80% das crianças recuperam a movimentação do braço espontaneamente. Em geral os movimentos começam a retornar em torno de 4 a 6 semanas após o trauma e a recuperação se completa por volta dos 3 a 4 meses. Por isso, o tratamento inicial é sempre reabilitação (fisioterapia/terapia ocupacional), que deve ser instituída precocemente (primeira semana), sob a forma de estímulos, alongamentos e exercícios de movimentação passiva para manter a amplitude de movimentos em todas as articulações comprometidas. Se o paciente não recuperar alguns movimentos específicos, como a contração do músculo bíceps (cerca de 20% dos casos) dentro de um espaço de tempo de 3 meses, pode necessitar de cirurgia. Como os resultados cirúrgicos são melhores nos casos operados mais precocemente é importante que logo após o diagnóstico a criança seja avaliada e acompanhada por um especialista nesse tipo de lesão de nervos e, quando necessária, a cirurgia seja realizada o mais precocemente possível. A decisão sobre a necessidade/momento ideal do tratamento cirúrgico é tomada principalmente com base em avaliações clínicas seriadas, mas pode ser auxiliada por exames complementares (ex. ressonância magnética, eletroneuromiografia). Na maioria das vezes o tratamento cirúrgico consiste em retirar a parte lesada do plexo braquial e substituí-la por enxertos de um nervo sensitivo retirado da perna. Em algumas situações (ex. parte ou todo o plexo arrancado da medula espinhal) pode haver necessidade de transferir nervos sadios, de dentro ou de fora do plexo para regenerar partes lesadas, como por exemplo utilizar o nervo acessório, relacionado com a elevação do ombro, para reinervar o nervo supraescapular, um dos responsáveis pela movimentação lateral do braço.
Após a cirurgia o membro superior do lado operado é imobilizado por 3 semanas e depois é reiniciado o programa de reabilitação. Além da qualidade da cirurgia que foi realizada, os resultados, que demoram meses para aparecer, estão diretamente relacionados à intensidade e extensão da lesão.
Com relativa frequência as crianças vão necessitar, posteriormente, de cirurgias ortopédicas (ex. liberações ou transferências de músculos/tendões) para melhorar a função do membro superior afetado.